Vinícius Terra

Versos Que Atravessam o Atlântico

Vinícius Terra


Versos que atravessam o Atlântico, entoados em cântico
Sentimentos à frente de um peito romântico
Ontem navegavam caravelas sob o ar
Hoje flutuam aviões pesados sobre o mar
Passaram séculos, pessoas e credos
Sentimentos injustos ou mesmo incrédulos
Ações convertidas ao incerto
Porque sempre é adiante, no princípio é o verbo
Flores, guerras, pensamento não encerra
Arte é semente que germina sobre a terra
Terras distantes, pessoas distantes
Todas unidas na prateleira dessa estante
Trovadores, repentistas, partideiros versadores
Palavra recitada por amores, dissabores
Europeus, asiáticos, africanos, sul-americanos
Uma língua comum que uniu seres humanos

P'ra Lusofonia nasce um novo dia
Os povos acordaram numa mesma sintonia
Língua, sonho, RAP, rua
O ritmo saiu de uma cabeça como a tua

Nascido no maior gueto do mundo, no continente Africano
Comprei um passaporte para o outro lado do oceano
Com os trocos que eu ganhei, mano
Deixei tudo para trás, atrás do sonho Lusitano
Construi e limpei as moradias da Tuga
Com força e empenho de quem nunca teve uma
Eles enganaram-me, ou eu errei, é minha culpa
É a vida dos nossos pais numa história curta
Mas nem tudo que ficou, ficou para trás
Nasceram novas Áfricas em mil lugares
Nasceram novos mundos, nasceram novos mares
E os homens todos juntos procuram a paz
Mas antes da paz vem a justiça
Vem uma mesa redonda cheia de comida
Onde os filhos dos escravos e dos donos se sentem em harmonia
Comem e bebem em alegria, até nascer um novo dia

P'ra Lusofonia nasce um novo dia
Os povos acordaram numa mesma sintonia
Língua, sonho, RAP, rua
O ritmo saiu de uma cabeça como a tua

Sementes planto no campo semântico
Sente o trânsito Atlântico
É mais um canto transatlântico
Enquanto o coração transplanto para esta folha em branco
Formo um bando de versos forjados em lume brando
No entanto, educamos manos, formamos guerreiros
Somos homens de palavra, na jornada pioneiros
Eu vim do Rio Douro até ao Rio de Janeiro
E no fim, do Galeão até Francisco Sá Carneiro
Vi a Lusofonia nesta arte que me guia
E não derrubei a barreira, a fronteira não existia
A minha bandeira é musical, a nossa língua universal
A maior arte é a vocal, infinito manancial
Tempestade mental, torrencial gramatical
Somos construtores de pontes entre o Brasil e Portugal
Sente o gelo que derrete nesta terra do RAP
Encurtamos as distâncias tal como a internet

P'ra Lusofonia nasce um novo dia
Os povos acordaram numa mesma sintonia
Língua, sonho, RAP, rua
O ritmo saiu de uma cabeça como a tua