Palmeira e Piraci

A Carta do Expedicionário

Palmeira e Piraci


Minha querida mamãe
É com a maior sôdade
Que envio nesta cartinha
Votos de felicidade

Quanto a mim e meus colega
Semos uma irmandade
Temos orguio de ser
Sordados da liberdade

Aqui semo bem tratado
Temo agasaio e comida
Mas quando é de tardezinha
A sôdade é delorida

Quando eu canto na viola
A cantiga é tão sentida
Que parece que eu tô vendo
Todo os dia da minha vida

Vejo o rancho de sapé
E a senhora a trabaiar
Vejo a talha atrás da porta
Vejo as vara de pescar

Os passarinho nas árve
Vejo a horta e o pomar
Inté parece que iscuito
A criançada a brincar

Parece um sonho isso tudo
E um sonho tão bonito
Que eu perfiro ir sonhando
E quase que eu acredito

Vejo assim os meus amigo
Joaquim, Paulo e Benedito
Mas quando alembro da noiva
Meu coração fica aflito

Daí então me desperto
E um pensamento me vem
Que a senhora e a minha noiva
Sempre se quiseram bem

E uma consola a outra
Pelo amor que por mim tem
E tem o mesmo idear
São brasileiras também

Ao terminar esta carta
Digo com sinceridade
Que apesar de aqui distante
Eu sofro grande sôdade

Eu dou graças ao bom Deus
Por ter a felicidade
De luitar por essa causa
A causa da liberdade