Miro Saldanha

Duas Notas

Miro Saldanha


Eu lembro dia e hora em que cismei de sair
Pra ver as voltas que esse mundo dá
Violão a tiracolo, decidido a partir
E a minha mãe dizendo: Não vá!
Meu filho, eu sei que um sonho mora em teu coração
E, às vezes, toma conta de ti
Mas diga se és capaz de dedilhar, ao violão
As cinco notas mi, fa, sol, lá, si!

Mamãe, essa pergunta não impede a partida!
A estrada é feita desse vai-e-vem!
Por mais que a senhora entenda um tanto da vida
São sete as notas que a escala tem!
Então, ela me disse: Vida e notas são tuas
E és livre pra o teu sonho dedilhar
Mas sei que, cedo ou tarde, darás falta de duas
E é dessas que eu quero te falar
É o dó, que o mundo não tem
E o ré, que o tempo não dá

Eu trouxe, na lembrança, aquele beijo na mão
Que me abençoava em nome de Deus
E, pra mudar o mundo, nada além de um violão
Um santo e uma foto dos meus
E hoje sigo um sonho, já coberto de pó
Que eu dedilho à custa da fé
E o mundo me acompanha em sua escala sem dó
A me lembrar que o tempo não dá ré!

Carrego, na garupa, outras tantas partidas
A estrada é feita desse vai-e-vem
Mas vejo, pelo tanto que hoje entendo da vida
São cinco as notas que a escala tem
Eu lembro que ela disse: Vida e notas são tuas
E és livre pra o teu sonho dedilhar
Mas sei que, cedo ou tarde, darás falta de duas
E é dessas que eu quero te falar
É o dó, que o mundo não tem
E o ré, que o tempo não dá
Dó, o mundo não tem
Ré, o tempo não dá