Milton Sica

Sangrando

Milton Sica


Há uma taça quebrada
Nas minhas mãos estendidas
Não há cortes, nem feridas
Só angústias na garganta
Pois o vinho da paixão
Me escapa por entre os dedos

Tenho uma sede profunda
Mas não consigo reter
Todo líquido que se esvai
Tenho aridez na minha boca
Mas não consigo manter
Tudo aquilo que se afasta

E o vinho tinto que escorre
Verte de dentro do peito
E cada gota que foge
Me falta no coração
Deixando um vazio imenso
Sem talho, sem incisão

Tento juntar os pedaços
Tento estancar o derrame
Quero matar minha sede
Sei que preciso beber
Mas as frestas dos meus dedos
Já não permite conter
Sigo querendo mais vinho
Sangrando
Sem me cortar