Maria Lídia

O Limite

Maria Lídia


Nasci à sombra de plutão, em noite clara de verão, escorpião zodiacal
E normalmente respirei a vida, aliviando a dor de minha mãe querida
Deu-me infância bem nutrida, eis que, decididamente,
Meu destino já estava escrito na linha da minha mão

Antes de travar conhecimento musical, eu era trivial, ou nada,
Mas apareceu a fada Walter que me convidou pra guerra
Com bandeira, fui ao fronte, era tanta terra sem trincheira
Pra eu me proteger dos inimigos e de mais perigos
Dentro do meu pelotão de som

Sou somente o que mereço ser, pareço ser bem mais
Cada um sabe o limite do que deve ser capaz...
Sou somente o que pareço ser, mereço ser bem mais
Cada um sabe o limite do que pode ser capaz...

Conheci olhares duvidosos, desejosos, mercenários, solitários, maus e bons,
A me puxar pra baixo, eu me segurava aos sons, em cima, procurando clima,
Sempre que lutavam corpo e alma, internamente, pra manter a calma
Arma do artista, coração de pugilista

Nunca fui demais suficiente, eu, doente fico,
Quando falta a força de um amigo, uma frieza me abraça
E não consigo ver beleza, gosto, graça em canções, crianças, flores, festa,
Nada presta, nada resta a rir, nada me toca, não seduz
Nem gosto, cor, odor, som, luz

Sou somente o que mereço ser, pareço ser bem mais
Cada um sabe o limite do que deve ser capaz...
Sou somente o que pareço ser, mereço ser bem mais
Cada um sabe o limite do que pode ser capaz...

Acho que o vigia do mercado deve estar acostumado
Com a cena rotineira na avenida tapajós, de madrugada,
Pela via esburacada e nua, feito a lua,
Ando, procurando no céu, uma estrela bela
Pra pedir algo secreto e distante como ela

Sou somente o que mereço ser, pareço ser bem mais
Cada um sabe o limite do que deve ser capaz...
Sou somente o que pareço ser, mereço ser bem mais
Cada um sabe o limite do que pode ser capaz...