Júlio Nobre

Faço-me Amor

Júlio Nobre


As cenas que vestem os dias
Acenam por uma candura
Que abriguem em tantos desencontros
As cinzas tão vis de toda ternura

Em uma vida feita de trilhos
As estações são minha morada
No esvaziado imediato
Faço no frio minha caminhada

Me desfaço em pedaços e dos cacos faço-me amor

De mãos dadas com o calado estranho
Ergo uma casa em meio ao escuro
Do vácuo, um frágil lugar
Desenho limites plantando um muro

Me desfaço em pedaços e dos cacos faço-me amor

Mas as casas são belas prisões
A esconderem a volúpia do dia
Seguros na sala de estar
Resistem a todo amor e a alegria

Me desfaço em pedaços e dos cacos faço-me amor