Jorge Fernandes

Silhueta

Jorge Fernandes


Quando as nuvens, apressadas
Vestem noite nas calçadas
Para o bailado da lua
Eu namoro uma vidraça
Do apartamento na praça
Do outro lado da rua

A silhueta que eu vejo
É dona do meu desejo
Por que desejo, não sei
Mas, na ilusão de um poeta
Na sombra que se projeta
Vejo a mulher que sonhei

Eu quis gritar da janela
Para contar tudo a ela
Mas falei, no quarto, a esmo
E o eco me fez sentir
Que é preferível mentir
Numa ilusão, a mim mesmo

A Dona Felicidade
Que com tanta ansiedade
Procuramos, sempre em vão
É a vidraça que se embaça
No apartamento da praça
Da nossa imaginação