Joca Martins

Décima do Pilcha-Véia

Joca Martins


Eu me chamo pilcha-velha e lá da fronteira eu venho
Eu sempre usei pilcha-velha, pois só pilcha-velha eu tenho

Eu me chamo pilcha-velha mucho gusto me apresento
Trago na estampa crioula uma história de muito tempo
Quem me vê de qualquer jeito até pensa que eu sou vago
Mas é só prestar atenção para enxergar o sul que trago

Eu me chamo pilcha-velha e o meu nome é até me esqueço
Com pouco cobre que eu ganho pilcha nova eu não mereço
Minha bombacha é surrada e tem manchas de azulão
Com os fundilhos esgualepado já sem casa pros botão

Eu me chamo pilcha-velha e quem vê me conhece bem
Quem anda de pilcha Nova só sabe o que a pilcha tem
Pra um tirador de carpincho que trago de baixo ao pala
Já tem um rasgo no meio bem d’onde a corda resbala

Eu me chamou pilcha-velha e pilcha-velha me chamam
As pilchas já tão surrada, mas as percantas me amam
Até meu pelo de lebra que a aba nunca se dobra
Já cambiu a cor da estampa que nem um couro de cobra

Eu me chamo pilcha-velha, mas não me tirem por louco
Se eu não fosse o pilcha-velha o pilcha-velha era outro
O meu lenço cor de Sol que o Sol tá quase apagado
Carrega timbrando a seda um beijo rubro estampado

Eu me chamo pilcha-velha, pilcha-velha sim senhor
Não preciso nova para ser bom namorador
As minhas botas rosilhona de bailar em ivaquiano
Na meia sola dos pés carrega o saibro dos anos

Eu me chamo pilcha-velha e quem vê me conhece bem
Quem anda de pilcha Nova só sabe o que a pilcha tem
Pra um tirador de carpincho que trago de baixo ao pala
Já tem um rasgo no meio bem d’onde a corda resbala

Eu me chamou pilcha-velha e pilcha-velha me chamam
As pilchas já tão surrada, mas as percantas me amam
Até meu pelo de lebra que a aba nunca se dobra
Já cambiu a cor da estampa que nem um couro de cobra
Já cambiu a cor da estampa que nem um couro de cobra
Eu me chamou pilcha-velha