Dário Guerreiro

Canção de Amor Honesto

Dário Guerreiro


Amor, eu não te vou mentir
Consigo viver na boa sem ti
E quando não estás, não tenho depressão
Enquanto não chegas, vejo televisão
Bato uma punheta, e dou comer ao cão

Amor, tu não leves isto a mal
Meu amor por ti é grande, é colossal
Mas por ti não apanhava uma granada
Dormia na rua ou andava à porrada
Eu sangro do nariz se levo uma chapada

Eu amo-te ao ponto de fazer dieta e acordar cedo
Ir contigo às finanças é coisa que não me mete medo
Passo horas no Shopping e vou visitar a tua mãe
Se ainda não fugi, é porque te amo, sabes bem

Eu amo-te ao ponto de não ver a bola até ao fim
Perguntas se engordaste e eu nunca te digo que sim
Levo-te a jantar fora e dou-te flores e postais
E se me negas sexo, eu já não te bato mais

Amor, tu achas que o romantismo
É uma espécie de sadomasoquismo
Em que um homem oferece a sua vida
Em prol de uma gaja mal agradecida
Essa conduta é bué suicida

Não ligues ao que diz o Bruno Mars
Aquele piano não andou a arrastar's
Puseram rodinhas em baixo e de lado
Ninguém o traiu, isso foi inventado
Pra envergonharem o teu namorado!

Essas canções de amor
Que tu tanto ouves
Têm tanto amor
Como tem, tipo couves

Como aquela do André Sardet
Que mede o amor com uma régua, ou sei lá o quê

O gajo diz que gosta dela como daqui até à Lua
Que são precisamente 384 mil e 400 quilômetros
Que eu 'tive a ver na puta da Wikipédia pra vir aqui dizer a vocês esta noite
Mas se calhar o cabrão nem sequer é capaz de fazer 500 metros como eu faço
Naquelas noites de verão em que a gente esteve a fazer sardinhas ao jantar
E ficou no fundo do balde do lixo aquele líquido, aquele líquido nojento a babar
O saco nem 'tá furado mas o molho das sardinhas passa pelo saco
E tu vais levar aquela merda fora e vai deixando um rasto, pingando pelo alcatrão fora
E eu vou de chinelos jogar o lixo, porque é verão
Chego a casa todo a espezinhar dos pés
Shack, shack, shack
E tu nem sequer obrigado dizes

O amor
Não é fogo que arde sem se ver
Não é canto de Afrodite, nem é branto de poetas
O amor é simplesmente tu escolheres uma gaja qualquer
Para ter a exclusividade das tuas quecas

Eu amo-te ao ponto de baixar a tampa da sanita
De comer teu arroz sem fazer cara esquisita
E não fico ofendido se os crepes não partilhas
Nem com esses pelos encravados que tu tens nas virilhas

Eu amo-te ao ponto de tolerar a tua existência
Porque amar é ter pouco sexo e muita paciência
E fiz esta canção precisamente por te amar
E pra ver se me deixas dar-te uma e filmar