Clóvis Cosmo

Para-Noia (Tarântula)

Clóvis Cosmo


Antes
De dormir
Planejei uns pesadelos
Vim te ver dormir
Efervescendo

Insetos piscantes
Ah! De olhos distantes
Sussurram
Sussurros

E eu já não sei mais
Quais as conspirações

E o rato roeu
(Hahaha)
A minha memória
E as aranhas fazem teias
Nas texturas
Das suas costas
Pontilhadas

Em tais vitrais
Aqueles túneis
De passagens parecidas
Com os buracos
Nas pupilas
Dilatadas

Você sabe que de noite eu choro
Me consuma ser da fenda
Quebre
Meu crânio
Serei feliz

E chocando o crânio contra a pedra
Já não pensa mais em nada
Torna-se
Pedra
Enfim feliz

(Para-noia)

Desaba em modorra-rá!
Batidas na porta
A velha
Vertigem

Nós túneis os gritos
Estão presos
Em gaiolas
Por onde rastejam peixes-cegos
Tão sorumbáticos
Quanto você, meu bem
Lá vem
Lá vem o fiscal
(Hahaha)
Do eletrochoque
Suas punhetas-paranóicas
São colagens
De Van Genke
(Mr. Skip Spence)

E algum soldado analfabeto
Vai violar suas prateleiras
Vasculhando
Por Karl Marx

Você sabe que orgasmo e vômito
São no fundo a mesma coisa
Ferve
De alívio
Do frio interno

Nos gemidos do naufrágio eterno
Rangem garos nos telhados
Ah, empalados
Nos seus espetos
De churrasco
(Menestrel)

Eu disse que antes
De dormir
Planejei uns pesadelos
(Ái, ái)
Vim te ver
Dormir
Tarântula