Cezar e Paulinho

Recheio de Um Vestido

Cezar e Paulinho


Já enfrentei touro à unha
Já mostrei minha bravura
Para eu sobreviver
Enfrentei parada dura

De roer osso na vida
Gastei minha dentadura
Eu estou quase perdido
Mas o recheio de um vestido
É o remédio que me cura

Eu sou caboclo arrojado
Sertanejo sem mistura
Se avida fica amarga
Eu faço ela ficar doçura

Já cumpri minhas promessas
E não quebrei as minhas juras
Eu estou quase perdido
Mas o recheio de um vestido
É o remédio que me cura

Já cansei de ter exposto
O meu retrato na moldura
Minhas obras publicadas
Fazem parte da cultura

E mesmo sofrendo bastante
Não entrego a rapadura
Eu estou quase perdido
Mas o recheio de um vestido
É o remédio que me cura

Minhas músicas na praça
É igual fruta madura
Minha voz é uma medalha
Onde bate, corta e fura

Por causa de um amor
Eu já fiz muitas loucuras
Eu estou quase perdido
Mas o recheio de um vestido
É o remédio que me cura

Enfrentei onça no tapa
Mostrei que eu sou encardido
Já tomei muitas lambadas
Já tô de couro curtido

Escapei de emboscadas
Eu sou caboclo sacudido
Tudo pode machucar
Mas o que vai me matar
É o recheio de um vestido

Aprendi muitas lições
Nas coisas que eu tenho lido
O meu peito sofredor
Já foi muito atingido

Já fui picado de cobra
E tantos bichos atrevidos
Eu posso até me machucar
Mas o que vai me matar
É o recheio de um vestido

Eu sou muito respeitado
Nos lugar que eu tenho ido
Eu só recebo elogios
Porque eu tenho merecido

Já levei tantas pancadas
Que deixou meu corpo moído
Eu posso até me machucar
Mas o que vai me matar
É o recheio de um vestido

Minha vida é uma verdade
Não é um caso perdido
Eu já comi de tudo um pouco
E com muito tempero ardido

Sofri pra vencer batalhas
Mas não estou arrependido
Eu posso até me machucar
Mas o que vai me matar
É o recheio de um vestido

Por uma flor pantaneira
Fiquei de queixo caído
Mas quem não chora, não mama
Chorão é meu apelido

Uma espada que não mata
É a espada do cupido
Pode até me machucar
Mas o que vai me matar
É o recheio de um vestido