Papai Noé me disse Que a arca está pronta no alto do morro E os animais já estão Em fila dois a dois Papai Noé falou Que o dilúvio é pra hoje ou amanhã Mas que ninguém sabe direito o que pinta depois Papai Noé pediu Que eu juntasse umas coisas importantes Representantes da nossa cultura e civilização Mas só que tem papai! Que o que eu quero levar é muita coisa Que eu tenho certeza que não vai caber no porão Botei na mala um retrato de Getúlio Vargas De charutão e calças largas E alguns confetes usados que nós conservamos Todos do bloco lá de Ramos Tem Rock'N Roll, calça Lee e chiclete de bola E muita coca-cola e uns programas gravados da rádio Nacional Meio de ano e carnaval Papai Noé não sabe que eu quero levar essa mala tão cheia O meu passado vai ser um futuro legal pra nós dois E eu quero ver se eu salvo o que eu posso das águas do dilúvio Já que ninguém sabe direito o que pinta depois Ninguém sabe se fica direito Ninguém sabe se fica direito depois Eu separei uns retratos de gente da família Do piquenique lá na ilha E o Habeas Corpus do filho do tio Nestor Quase foi preso, que horror! O violão do Faustino, a bandeira do Mengo Ai, ai, ai que dengo! E as obras completas do Carlos Gardel Caiu a sopa no mel Papai Noé vai ter um ataque de raiva e jogar tudo fora Mas por agora eu vou arriscar meu feijão com arroz E eu quero ver se eu salvo o que eu posso das águas do dilúvio Já que ninguém sabe direito o que pinta depois Ninguém sabe se fica direito depois Já que ninguém sabe se fica direito depois