[Narrador] Um homem enriqueceu fabricando aguardente Carros, fazendas, palácios, adquiriu de repente Uma noite ele sonhou que estava muito contente entre seus bens Quando deu-se um fato surpreendente [Homem] Ah! Ah! Ah! Minha fábrica de cachaça deu-me um lucro fabuloso Tudo isto me pertence, estou rico, poderoso, ah! Ah! Ah! [Consciência] Boa noite, como vai? [Homem] Boa noite, quem é o senhor? [Consciência] Sou a vossa consciência Acompanhe-me por favor Quero lhe mostrar agora quanta dor, quanta desgraça Quantos lares destruíste com sua maldita cachaça [Homem] O que é isto? Ouço vozes de crianças a chorar! [Consciência] Sim, são as criancinhas órfãs que ficaram a penar Depois que seus pais morreram bebendo até se acabar Sua maldita cachaça num triste balcão de bar [Homem] Está chovendo sem nuvens? Por que esta chuva meu Deus! [Consciência] São as lágrimas das mães Que perderam os filhos seus bebendo a sua cachaça Uns morreram, outros mataram Esposas sem esperanças que abandonadas ficaram [Homem] O que é isto, onde estou? Sinto um estranho pavor Ouço um turbilhão de vozes gritando para mim! Oh! Que horror! [Consciência] São os homens que bebendo sua cachaça enlouqueceram E hoje estão num manicômio chorando o lar que perderam [Homem] E o que vejo? Um grande rio? Com suas águas revoltadas E pessoas afogando-se, gritando desesperadas! [Consciência] Este é o rio de cachaça que o senhor fabricou E veja ali quantas vidas sua cachaça afogou Para o senhor ficar rico e tão depressa progredir Quantos sonhos, quantos lares foi preciso destruir [Homem] E esta longa procissão silenciosa, onde vai? [Consciência] São mães que perderam os filhos, filhos que perderam pais Vão até o cemitério, todos cobertos de luto Visitar os que morreram vítimas de seu produto Tu sabe que ela é veneno, mas vende sem piedade A cachaça destruidora, flagelo da humanidade Por isso vou atirá-lo neste abismo profundo Fique aí, és o pior dos pecadores do mundo [Homem] Estou caindo, é um abismo, tudo é escuro em meu redor Nada estou vendo, socorro! Salva-me Deus, por favor Ah! Eu estava dormindo, acordei. Então era sonho, oh! Que sorte! Sim, mas o sonho provou que eu sou o fabricante da morte