Tão fundo, eu já não vejo pra fora Entre relógios parados, eu já não conto as horas Marado, querer ficar mas ter que ir embora Lábios tapados são olhos que saltam fora Sigo silenciada, deixo tudo, vou sem nada Meto-me no escuro, dói-me os olhos, tou estragada Eles dizem que saídas são novas entradas E eu só queria dizer tudo mas só me sai nada E tou estalando estalar de vez como um copo atirado Tenho um laço que me aperta o peito desarrumado Sentisses o que sinto e eramos um lado Mas só somos duas pontas com dois pontos virados Virada do avesso, eu já não bato certo O meu peito é um deserto, tou tão longe do perto Perco-me, vergo-me, esqueço-te, desapego E vou andando, contando estrelas como um cego. E vou andando, contando estrelas como um cego Ando a caçar miragens, guardo sonhos na carteira A minha vida é uma margem, mesmo à beira do abismo Sismo nas pontas, tenho atração pelo platonismo Tá tudo nos meus olhos, não procures mais que isso Sou a raiz quadrada de uma parede tão vazia Tenho medo nas pestanas e coragem nas pupilas Sou um astro em colapso ao final do dia A rapidez que nos separa mostra que foste fantasia E vou coleccionando dias aos bocados Corro estradas com um coração parado Não me acordo, não consigo, a cama já só tem um lado Tenho vidros na almofada e letras de fado Metade dou, metade segredo, metade sonho, metade medo Mãos trémulas cheiram a desassossego Metade afirmo, metade nego E vou andando, contando estrelas como um cego E vou andando, contando estrelas como um cego