[Cirandeiro] Mas, Leila, começou tudo de novo? [Anciã] Começou? Não começou Não começou porque não acabou Uma história só acaba quando deixam de contar Por isso hoje eu moro em qualquer canto Resisto em qualquer lugar Pois moro no meu próprio canto E só existo se cantar [Cirandeiros] E na quarta vez, um lugar, a memória A lenda não se acaba enquanto alguém quiser contar Um povo que se escuta sabe bem o que diz Um homem sem história é uma planta sem raíz Por isso a cada canto, a origem se renova E essa fase da história, nós chamamos Lua Nova Reza a lenda de um Boto Cor-de-Rosa Que mora no mar e o filho na areia Reza a lenda de um canto que encanta Será que ela então seria uma Sereia? E quem vai lembrar Das partes da história que ninguém se importa? Como um povo vai viver, como vai lutar? Se um passado se apaga, do futuro se desconta Reza a lenda que ele era o Curupira Com fogo no cabelo e os pés pra trás Reza a lenda sobre a Mãe-de-Ouro Que cuida das mulheres e dos minerais Reza a lenda que a gente se colore E a tinta de um povo é o seu folclore Reza a lenda que o amor não se rende Ê, a, ê Não se entende Ê, a, ê Só se sente Ê, a, ê É semente Ê, a, ê, ê, a, ê, ô, ê Ê, a, ê, ê, a, ê, ô, ê Ê, a, ê, ê, a, ê, ô, ê [Leila e Madrinha] Reza a lenda!