Mais uma noite de uma vida que você não quer Vai de AK-47 pra tirar plantão Do barraco pra viela, sobe o morro à pé Os manos já te aguardam lá na contenção Observa o movimento ao redor da boca Os malandros e drogados subindo a ladeira Com olhos esbugalhados de mosca na sopa É o pó, a erva e a pedra não são brincadeira Enquanto troca uma ideia com o fiel do bonde Você pensa na infância e nos sonhos que teve E a criança que já foi e hoje se esconde Te questiona, te pergunta repetidas vezes Quantos deles você matou pra sobreviver? Quantos deles você matou pra sobreviver? Quantos deles você matou pra sobreviver? Quantos deles você matou? Mas como você vai largar aquela grana certa E trocar por um emprego de assalariado? Se abandonou os seus estudos pela vida incerta Seu caminho pelo crime já está traçado Aos dezesseis você já tem todo o roteiro escrito Da maldição que se repete a cada geração A certeza que a pobreza vem de pai pra filho E que a morte chega cedo nessa profissão Mas agora é muito tarde, os home já vêm vindo E pelo visto não é só pra buscar o arrego O fogueteiro, seu isqueiro, os fogos vão subindo E sua AK-47: Acabou o sossego