Tanto trabalho suado pra um dinheiro pingado Que batalhei pra buscar um lugar pra chamar de lar Foi um barraco surrado Madeira pra todo lado Que consegui catando latinha na porta do bar A minha filha no colo que a mãe mal conheceu Porque se afundou no crack e do mundo se desprendeu Não tinha muita estrutura mas não faltava alimento Ter um lugar pra morar foi o fim do meu sofrimento Por pouco tempo, malditos empresários de facetas Ralo pra cacete e sou jogado na sarjeta Atitude fétida, princípio sub-humano Tirar o lugar de alguém só pra desfilar com o carro do ano Não consigo entender esse papo todo de reintegração Achava que o espaço era nosso e não era posse da legislação Invadiram minha terra, tomaram Posse Só pra passear com a porra de um Ecosport Numa invasão esquisita criei minha filha lá Não tinha água encanada o que era foda aceitar Era um cubo obscuro feito de concreto Só tinha a pouca luz da lua nos buracos do teto Acorrentado numa jaula de barreiras sociais Onde quem tem pouco só é enxergado morto nos jornais Arrombaram o portão com a carta de despejo Mesmo abandonado é largado pros insetos Não posso sair no meio desse relampejo Na rua cada caminho traçado é incerto Nadando como um peixe em um bueiro poluído Minha filha não merece viver desse jeito Não aguentei, não tinha que ter reagido Fui alvejado... Por 16 tiros no peito Os humilhados não merecem ser despejados Espero que um dia este fardo seja deixado (V.D.S, D.E.F) O sangue do cadáver desovado ainda ferve (123,456) Mais um injustiçado que perdeu a sua vez (Ou levaram sua vez?) Seria insensatez? Ou só um desejo claro do Cartel Burguês? Essa dor que me aperta, me faz ser diferente Ver tantos irmãos caídos aos pés de toda essa gente E a filha parada observou Os tiros a queima roupa que o pai levou Levaram ele num caixão lacrado todo furado Mataram o cara errado Uma Historia criada de um morador de favela Que perdeu a moradia e também a vida Sua filha acompanhou tudo explicitamente Como será a mente dessa criança sofrida?