Sou o choro da menina Surrada na praça A nuca do mendigo Aberta a pedrada Projétil em disparada A garganta do homem No gume da faca Sou a morte instantânea Naquela batida A língua do cachorro Na ferida aberta pra vida Que sempre se encontra Deitada na mesma esquina E a cuia treme Gente geme E a gente nem repara Ta tudo a nossa frente Fato a fato Cara a cara Cala a cara Sou o corpo alvejado Por bala perdida A partida no tempo A luz no rebento Mais um barriga vazia E mais valia a idéia Ser teta a pra burguesia Sou a farsa fatal Imersa na sutileza Um gesto delicado A garra afagando A presa Sou a quimera real Da tua falsa beleza Sou o ser humano Engano do próprio Deus Eu deveria andar rastejando E a serpente criar asas pra o céu