Me chamo João mata burro, cria do João maragato Nasci na costa do mato, no peral do irapuá Pra mim poder me criar, fizeram até simpatia Mamava leite de égua, mesmo assim, eu não crescia Fiquei piá, me tornei homem Meio gente, meio bicho Relincho que nem cuiúdo Quando me agrada o cambicho Numa sexta-feira santa, primeiro cantar do galo Diabo virou num cavalo, relinchou pro mata burro Nas orelha' levou um murro, caiu tonto o desgraçado O capeta cochilou, se acordou, tava encilhado Eu mamei leite de égua Por isso, sou deferente Tenho um jeitão de cavalo Mas meu espírito é de gente Me enforquilhei no tinhoso, dei-lhe um tapa na cabeça Nem que teu couro apodreça, eu não caio do teu lombo O dia que eu levar um tombo, vai ser do lombo da morte Por estar velho e cansado, talvez por falta de sorte Depois do serviço pronto Eu agradeço os espírito Amanheço em volta do fogo Tomando um mate solito Quando o bicho é d'outro mundo, João mata burro é malvado De sombreirito tapeado e as espora' bem afiada' E a chincha dando dentada, mordendo o osso do peito Mango papada de touro pra surrar torto e direito Atiro as ponta' pra trás Do velho lenço encarnado Vou bailar c'o chinaredo E o diabo posa encilhado É bem assim, João mata burro, por incrível que pareça É bem assim, João mata burro, por incrível que pareça Tem um miolo na cabeça, por isso, não perco o tino Sangue de bugre teatino d'um legendário charrua Um dia, eu paro no tempo, mas o tempo continua Um dia, eu paro no tempo, mas o tempo continua Não quero caixão nem vela Pra fazer meu funeral Quero uma China chorando Bombeando pra este animal