Você não é linda Você é a própria beleza de tudo que existe Não pode haver isso Isto que agora é seu colo, é seu rasgo, é seu riso Você não é isto Um corpo que agora se move, se joga, se tolhe Na certa há de ser outra coisa: Uma ideia, uma cifra O anúncio de uma primavera Primeira corola entreaberta A fim do orvalho que lhe molhe Você não existe Porque se existisse faria uma guerra de Tróia E o pacificado sertão quedaria coalhado do sangue dos machos Você aí se evolaria rajando o infinito E os olhos do mundo arderiam de constelações impossíveis Não pode haver isso Isto que agora é seu beijo, é seu medo, é seu visgo Jamais a beleza cairia na terra Virando meu tino Com tal violência Você, criatura, é um tapa Uma lapa de desinocência Que um nume bendito maldito bendito Verteu sobre mim feito essência Guardada no último cântaro E me iniciou neste rito De ver a beleza de frente Com olhos de crente Você quando existe É lua vermelha é gorjeio de ave alumbrada É ouro de abelha é leite jorrando de pedra É ciclo é ninhada Maré montante do meu sonho Nó cego, eixo do destino (Não posso ver isto) Menina, seu rosto encantado Se existe, sou eu que inexisto Caí na caldeira do Outro Beijando o coração do Cristo