Thiago Amud

Sofrência

Thiago Amud


Foi você 
Que pra me virar a cabeça 
Arranhou minha couraça 
Batizou minha cachaça 
Acabou com a minha raça  
Achou graça na desgraça 

Foi você que se meteu 
No recanto que era eu
Feito incêndio no museu 
Feito o anjo na vigília de um ateu 

Foi você
Que me apareceu do nada
E danou de me rondar
Pra depois me desandar 
E do nada nunca mais voltar  

Vem de novo me render, vem  
Me queimar, me converter, nem vem 
Mais danada que você, ninguém  

Foi você
Que pra me fazer arruaça
Veio vindo passo a passo
Se aninhou no meu regaço 
Amassou meu espinhaço 
Me cuspiu feito um bagaço  

Foi você quem invadiu
O meu coração baldio   
Que nem seiva, que nem cio  
Qual sofrência invade os cantos do Brasil 

Foi você 
Que me descobriu na toca  
E uma vez me cutucou
E outra vez me embatucou
E eis que nunca, nunca mais voltou 

Vem pra cá me enlouquecer, vem
Me tocar, me intumescer, nem vem
Mais maluca que você, ninguém