E se quando o grão Desabrochar n’outra estação Em vez de dar trigo e arroz Se abrir pra nós numa canção E então, vier da brotação Como de dentro de um sonho Um canto que é medonho De tão fundo que ele vai Rachando a terra de onde sai Purificando os frutos Como a bênção de um pai? (Broto de voz Ceifando a fome seca do sertão A voz de pão Harmonia do chão Alimento farto a quem pedir Ungüento santo a se parir Jorrando ao léu Como se Deus resolvesse existir) Não assustaria se o chão rasgasse um dia E, ao invés da safra que se esperou Irrompessem ecos de plena poesia Não se espantaria quem semeou Quem lavrou a terra, o solo arou, pôs água Entendeu da terra o pulso oculto, a invisível vibração Ofertou à terra um coração sem mágoa Tomaria a música em sua mão E a repartiria na proporção mais justa Com os miseráveis da região Mantras vegetais, etéreos grãos de sinfonia Modas cereais e folhas de polifonia Ai, quanta folia! Uma canção aberta em flor E quem quisesse os lucros da colheita Teria que enfrentar a multidão Armada de alegria e satisfeita Comendo a melodia do baião Baião, baião, baião