Eu já quis ser infeliz Só para ter o prazer de chorar. Chorar é tão saboroso Sentir as lágrimas a descer o nariz Suaves, esvaziando todo o fardo De um olhar denso e doloroso Que tudo ocupa e não dá espaço para ser: Sentir a pele molhada num fiozinho por desenhar, Um escorrer que arde onde guardo Espaço para olhar e poder ver. É bom como renascer e voar E, do choro, ao acordar, Sou uma gaivota pura e leve Sorrindo em todo onde o mar a leve. As gaivotas não choram, pois não, Não precisam de um lembrete Para sentir o coração. Sou feliz, chorando, voo como um grumete.