Salim, um turco sabido, quando em São Paulo chegou Na vinte e cinco de março uma loja ele comprou Em tecidos e roupas feitas ele se especializou Um baiano certo dia Comprar roupas pra família na sua loja entrou O baiano muito vivo, mais esperto que um cigano Disse eu sou fazendeiro lá no estado goiano Ele não pagou a conta e no turco deu o cano O turco desesperado Viajou pra aquele estado para cobrar o baiano "- Quem será que tá batendo, eu vou lá ver É o Salim de São Paulo. O que, que o senhor quer? - Boa tarde senhor. O senhor tá bom? O senhor comprou uma roupa lá Faz quase um ano e o senhor não voltou para pagar O que aconteceu? - A roupa que o senhor me vendeu Eu não vou pagar aquela peste, não! - A roupa não encolheu nada O senhor que mudou de clima, tá forte, gordo E o senhor ficou mais alto. Já fez um ano, senhor - Quer saber de uma coisa, seu Salim Não vou pagar e não pago mesmo O senhor pode até ir no terreiro de saravá O senhor me prometeu uma coisa e deu outra, encolheu tudo - Quer dizer que não tem acordo. O senhor não vai pagar mesmo - Não pago - Então eu vou ao pai de santo - Nessa o Salim dançou" Quem muito quer tudo perde, é um ditado verdadeiro O Salim tava ansioso pra receber o dinheiro Comprou pinga e comprou vela levou pro pai de terreiro E tudo que se passou Salim chorando contou ao famoso macumbeiro "- Saravá, visse filho, saravá! Pode entrar filho O que está acontecendo com vosmecê? - Eu vim aqui de São Paulo pra cobrar um baiano aqui O Baiano faz um ano que ele foi em São Paulo E comprou em minha loja e voltou pra cá Eu vim cobrar ele e ele me ofendeu e não quis pagar de jeito nenhum Eu vim falar com o senhor para o senhor dar um jeito pra mim, pra me ajudar. - Onde mora esse baiano, diz meu filho Conta pro preto velho que o preto velho vai dar um jeito - Ele mora em Goiás, Goiânia, perto do senhor aqui - Você recebendo esta conta Dá um pouquinho pra preto velho comprar vela e charuto - Eu prometo o que ele me pagar dou pro senhor a metade Por que tô com raiva desse homem - Ih, fio, o trem tá danado pro lado da sua loja na vinte e cinco de março Tá cheio de troço enterrado lá Mas preto velho vai dar um jeito E nós vamos receber esse dinheiro que preto velho quer um pouquinho Saravá, saravá! - Então faço questão que o senhor vá na minha loja Olha, sobrando pra mim dez por cento dá pra cobrir o capital" Lá na loja do Salim tava tudo preparado Para fazer o trabalho pra receber o fiado Acenderam muitas velas, vejam só o resultado O turco se viu perdido Pegou fogo nos tecidos e o Salim morreu queimado