Foi num resto de domingo O Sol já ia entrando Na estância vinha chegando Um xiru desconhecido Parecia usar vestido Com um tipo de capelão Primeira vez na região Que aparece esse indivíduo Dois ou três se levantaram Olhando muito assombrado E um tio velho acocorado Sentado nos carcanhá Não podia divulgar Antes de passar a cancela E o Nicácio, tagarela Começou a imaginar Garanto que é o comissário Que se vestiu de viúva Pra prender o Cabriúva Que ontem veio da cidade Isso é uma barbaridade Esse cristão não se emenda Resolveu trocar a fazenda Por uma casa com grade Quando olharam pra cancela Ele já tinha passado Vinha num tranco marchado Se arribando pro galpão Um foi bater os tição Para esperar a visita E o Nicácio, mui gasguita Correu chamar o patrão Chegou lá, fez um alarme Pra falar, se atrapalhou O patrão já calculou Quem é que tinha chegado Já tinha sido avisado Que em breve o capelão Chegaria até o rincão Pra fazer uns batizado Ali se cumprimentaram O patrão muito atencioso Franqueou o galpão pra pouso Ofereceu chimarrão Mandou puxar o alazão Para ser desencilhado Lavar bem o lombo suado E soltar num potreirão O capelão, mui buenacho Gostava da gauchada Levou indagar a peonada Se eram solteiros ou casados O Nicácio, encabulado Começou a conversar Eu tenciono me casar Por enquanto eu sou juntado Muito bem, vamos dar jeito Eu ando pra esse fim O que estiver em mim Estou à disposição Não precisa aprontação Pra gaúcho se casar Pode ser como está De chinelo ou pé no chão E o senhor, seu Cabriúva Que idade é que tem? Eu já não me alembro bem É noventa e uns quebrado Tenho bisneto sordado E se não fizer diferença Eu quero casar co’a Proença Que nunca fumo casado Marcaram pra terça-feira Casamento, batizado O rincão foi avisado Pelo próprio capelão Encilhou seu alazão E saiu batendo casco Pra convidar pra um churrasco Na estância do patrão Terça, ao clarear do dia A peonada já carneando O pessoal vinha chegando Em direção à festança Tia Proença de trança Vestidinho de riscado E no lenço trazia atado O seu par de alianças Fizeram a cerimônia Debaixo de uma figueira E a Virgem Santa Padroeira Foi exposta num altar Os primeiros a casar Foi Cabriúva e Proença Que receberam a bença Naquele humilde lugar Depois chegou o Nicácio Repontando a filharada Que ia ser batizada Despôs do seu casamento Estava muito atento Olhando para o altar Que ali ia se realizar O seu desajuntamento Se ajoelharam os dois Em cima de um tirador O capelão, com fervor Fez a interrogação - Aceita, Tia Conceição Como legítima esposa? - Vou lhe dizer uma coisa Aceito com as duas mão Saiu os dois casamentos E seguiu os batizados Todo o rincão ajoelhado Radiando de alegria Naquele instante se ouvia A reza do capelão Que distribuía bênção Naquele sagrado dia Terminou a cerimônia O Sol já ia entrando O pessoal foi se arredando Pras bandas dos rancherio Naquele pago sadio Deus enviou o capelão Pra distribuir ao rincão O que Jesus distribuiu