No tempo da escravidão O fazendeiro malvado Tinha na sua fazenda Muitos presto escravizado Trabalhando na mangueira Na dura lida do gado Nos serviços do terreiro Nas lavouras de roçado Era um bando de animais Nada menos, nada mais Por ele considerado Morava numa senzala E dormia pelo chão Eram tratados no cocho Como era as criação Uma preta cozinheira Que morava no porão Apanhava todo dia Da sinhá e do patrão Era uma escrava gestante Judiada morreu antes De no filho pôr bênção Depois que a preta morreu Disse a cruel criatura Com ela vou estercar Minhas terras de cultura Enterre lá no quintal Num lugar de terra dura E plante um pé de laranja Em cima da sepultura Dessa nova laranjeira Quero provar a primeira Quando estiver madura Aquela planta cresceu Muitos frutos produziu Quando estava madura Uma laranja pediu Com orgulho descascou E na boca comprimiu E da fruta em vez de suco Muito sangue ele engoliu Querendo pedir perdão Ajoelhou-se ali no chão Mas a fala não saiu E dali se levantou Numa grande tremedeira Lá pra sede da fazenda Ele saiu na carreira Sem comer e sem dormir Passou a semana inteira O silêncio que havia Transformou-se em barulheira Ele foi bem castigado Morreu louco enforcado Num galho da laranjeira