Desde pequeno teve um sonho de ser marinheiro Quis navegar e viajar a bordo de um cruzeiro Ser mensageiro Quis conhecer o mundo inteiro Mas o destino transformou seu sonho em pesadelo O pesadelo começou em plena madrugada A sangue frio, sua família foi assassinada Foi dizimada, foi esquartejada à katanada Perdeu o pai, perdeu a mãe, perdeu a sua casa Sobreviveu ao massacre do bié Onde a família, sem saber, acabará por morrer Aiwé A salvação foi percorrer Sete centenas de quilômetros a pé Até Luanda Posto em Luanda, só lutava para sobreviver Desamparado, não sabia o que iria fazer Não tinha escolha, pediu esmola, mas não deu certo Tinha pouca paciência, tinha pouco jeito Então pensou como mudar a situação Embora puto, arranjou uma profissão Lavava carros no parque de estacionamento E quando anoitecesse, dormia ao relento Papelão era a sua cama, e sem pijama Quando chovesse, o papelão não dominava a lama Muitas vezes o garoto perguntava Onde é que está a justiça?, enquanto lagrimava Adeus aos velhos sonhos e lembranças que ficaram Adeus aos velhos sonhos que não se concretizaram Adeus aos inocentes que morreram e não pecaram Adeus, adeus feridas que não saram Hosana A situação estava péssima Não comia em condições, a reifeição era carissima Procurava pão no lixo Para o mata-bicho As refeições vinham do lixo Foi por isso que apanhou uma doença, vômitos E com dores de cabeça, cólera Com princípios de anemia Temia, gemia, pedia, sofria Pediu ajuda, mas ninguém o socorreu Abrigo e comida ninguém ofereceu Dias depois, o garoto faleceu Com cara inocente, olhando para o céu Adeus aos velhos sonhos e lembranças que ficaram Adeus aos velhos sonhos que não se concretizaram Adeus aos inocentes que morreram e não pecaram Adeus, adeus feridas que não saram Hosana Hosana Oh, Hosana Hosana nas alturas Adeus aos velhos sonhos e lembranças que ficaram Adeus aos velhos sonhos que não se concretizaram Adeus aos inocentes que morreram e não pecaram Adeus, adeus feridas que não saram