Tem certas coisas na vida Que deveriam ficar Do jeito que sempre foram O chalezinho valente Varanda e jardim na frente Cercado pela distância Campo, chácara e pomar -Querência em forma de lar Onde morou minha infância! O galpão de costaneira O sotaque de fronteira Os causos de antigamente E pra amansar os invernos Um fogo de chão eterno Queimando n’alma da gente Um cavalete encilhado O laço enrodilhado Qual cobra pronta pro bote! Um bom cachorro lebreiro E um petiço no sogueiro Pra levar a vida ao trote Tem certas coisas na gente Que deveriam ficar Do mesmo jeito, pra sempre Meia quadra de campo Povoada de pirilampos Pra fazer um piá sonhar. As amizades sinceras E um punhado de quimeras Que eu já não trago no olhar O pátio de chão varrido Os sabores conhecidos Pão de forno, pastel frito Colo de mãe, os amigos E os arvoredos antigos Sombreando um tempo bendito As manhãs de campereadas Berros de bois na invernada E o clarim claro dos galos Uma rês lambendo a cria E o pago a escrever poesia No rastro de seus cavalos! Tem certas coisas na vida Que deveriam ficar Do jeito que sempre foram Rapadurinhas de leite Feitio das avós da gente Sabores que não tem fim E as laranjas maduras Que o meu pai, com doçura As descascava pra mim A voz mansa do mascate Que transformava em arte A sina dos vendilhões E em meio a chitas e extratos Vendia a preço barato As mais caras ilusões A prosa das lavadeiras As rezas das benzedeiras Mescla de fé e inocência O aboio dos tropeiros O canto do João Barreiro E todos os sons da querência! Tem certas coisas na gente Que deveriam ficar Do mesmo jeito, pra sempre