Shandala

Auto da Primavera

Shandala


Pois foi no tempo
Por aqui passou
Deixou saudade
Para quem ficou

Quem quiser se achegar
Venha aqui, vou lhe contar
Uma história um pouco estranha
Que não cabe a mim julgar

É o caso de um amor
Que de tão belo desvairou
A história da primavera
Que logo se apaixonou
Por um simples porteiro
Que na vida lhe cuidou

Um moço tão calado
Só sabia abrir e fechar
Foi então que num instante
Se pôs a arrepiar
Assim tão de repente
Ao ver a flor linda dançar

Pois foi no tempo
Por aqui passou
Deixou saudade
Para quem ficou

Foi-se então que aconteceu
O jogo da sedução
Apaixonados dançavam
No amor se encontravam

No meio da paixão
Apareceu desilusão
Não podia aquela flor
Dançar com tanta emoção

Vocês que estão ouvindo
Podem não se conformar
Um povo de repente
Veio sem nada explicar

Amor tão inventado
Não podiam suportar
Cobriram a flor com pano
Não podia mais dançar

O que estava apaixonado
Não queria se calar
Chamou para um duelo
E prometera se vingar

O porteiro, coitado
Tiro levou
Mas o amor que ele sentia
Era tão grande
Se adesenhou

Desesperado o porteiro
Não mais ficou
Cortou suas raízes
E assim a libertou

Fugiu o porteiro então
Carregando sua paixão
Dançar não mais podia
Quanta desilusão

O final, ó meus amigos
Não cabe a mim narrar
Tente dançar
E tão logo imaginar

Se ficar assim abobada
Sem palavra, ligue não
Pois como num sonho
Se chega de supetão
Se acorda na leseira
Meio sem eira nem beira