Sérgio Reis

Boinha e o Gato (part. Almir Sater)

Sérgio Reis


Eu era menino e via o pai e a mãe levantar
Quatro da manhã pra tender o gato que vinha buscar
Em riba de um caminhão via eles partir pro canavial
Ficava rezando sozinho em casa pros dois voltar

Oi, eu era um boinha
Filho de bóia fria já tinha o destino na minha mão
Não era cartilha, não era estudo não era nada
Era um facãozinho que o pai me fez com o seu facão

Era de madeira o cabo em forma de coração
Com a ponta afiada como convinha a um bom facão
Nele pai gravou algumas palavras com devoção
Pro filho amado, o meu boinha com emoção

Um dia o pai voltou ela e mais a mãe dentro de um caixão
De uma ribanceira rolaram os dois com a caminhão
E gato maldito escapou com vida da confusão
Veio abraçar e morreu na ponta do meu facão

Sendo de menor não paguei meu crime numa prisão
Fiquei só no mundo com esse remorço no coração
Pois na hora do enterro veio um menino e me deu a mão
E me falou chorando sou o gatinho do caminhão

Ela era menino e via o pai sempre levantar
As três da manhã pra ir buscar seu povo pra trabalhar
Com seu caminhão via o pai partir pro canavial
Ficava rezando sozinho em casa pro pai voltar

Oi, ele era um gatinho
Filho de um chofer, tinha o destino em suas mãos
Não era cartilha, não era estudo não era nada
Era um caminhãozinho que o pai lhe fez com seu coraçã