Eu era menino e via o pai e a mãe levantar Quatro da manhã pra tender o gato que vinha buscar Em riba de um caminhão via eles partir pro canavial Ficava rezando sozinho em casa pros dois voltar Oi, eu era um boinha Filho de bóia fria já tinha o destino na minha mão Não era cartilha, não era estudo não era nada Era um facãozinho que o pai me fez com o seu facão Era de madeira o cabo em forma de coração Com a ponta afiada como convinha a um bom facão Nele pai gravou algumas palavras com devoção Pro filho amado, o meu boinha com emoção Um dia o pai voltou ela e mais a mãe dentro de um caixão De uma ribanceira rolaram os dois com a caminhão E gato maldito escapou com vida da confusão Veio abraçar e morreu na ponta do meu facão Sendo de menor não paguei meu crime numa prisão Fiquei só no mundo com esse remorço no coração Pois na hora do enterro veio um menino e me deu a mão E me falou chorando sou o gatinho do caminhão Ela era menino e via o pai sempre levantar As três da manhã pra ir buscar seu povo pra trabalhar Com seu caminhão via o pai partir pro canavial Ficava rezando sozinho em casa pro pai voltar Oi, ele era um gatinho Filho de um chofer, tinha o destino em suas mãos Não era cartilha, não era estudo não era nada Era um caminhãozinho que o pai lhe fez com seu coraçã