Burocratas de plantão Ativistas de sofá Deuses da informação Ratos da retórica Animais em procissão Magos da política Pobres em ostentação Monstros da estética Não finja ver o que não vê Não forje a dor que não sentir Não fuja de onde quer ficar Não fique se não quer estar Templos da consumação Anjos da perfídia Padres da depravação Demônios da mídia Não finja ver o que não vê Não forje a dor que não sentir Não fuja de onde quer ficar Não fique se não quer estar Houve um tempo que seu coração pulsava em paz As mudanças de entonação tinham graça Seu espírito trazia pouco com que se preocupar Nem as dores eram mais que pirraça Mas pra todos vem o dia de provar desse mel A memória se esvai se convém Basta oferecer mais de uma vez, e perde-se o pudor Estendendo a mão que dá algo em troca Quanto mais perto de alcançar Mais difícil evitar Cuidado com o que diz Não entende que afasta quanto mais prende Cuidado com quem você é Tão reconfortante, apontar até o outro se queimar Acertando as contas da Humanidade Eis que surge a vez em que não dá pra ser mais hipócrita A chama se apagou É tarde Quanto mais perto de alcançar Mais difícil evitar Cuidado com o que diz Não entende que afasta quanto mais prende Cuidado com quem você é Lembra de como era bom perder por tardes iguais Jogar o mundo no chão, tirar a sorte sem ter E como fazer pra calcular quanto de nós Depositamos sem ver tudo voltar Ninguém notou se formar um mundo falso e feliz De imaginários mortais e primaveras febris E como fazer pra compensar esse valor Na guerra ou na paz pelo que for Ser é uma ficção Um urdir Ser é enredar O existir Acreditamos viver uma só vida por vez Nos desdobramos em mais do que podemos cumprir Desenvolvemos cinismo, egoísmo e rancor Aprendemos a roubar, matar e até destruir E como tirar vantagem, como sair na frente Quem somos nós, enfim, para julgar Ser é uma ficção Um urdir Ser é enredar O existir Eu vejo o Sol se por na contramão No contrapé do guardador do gol O arco-íris no final do pote contraposto Tangente ao ouro, o poste e o cachorro Eu vejo o peixe pescando o anzol A contragosto de seu pescador O contragolpe encontra o rosto A cara quebra a previsão Quebra o contrato em contraposição