Samuca e a Selva

Haja Axé

Samuca e a Selva


Me velando venta o veleiro
Balanço, balé brasileiro
Frio no peito traz saudades do verão
Outono é o tom desses dias
Platônico amor, melodias
Meio dia e meio ou meia: Indecisão

Chinela arrebentou na China
Fez da vida um contemplar de Lua moça
Peço força, poucas pistas
Viver e amar a melanina
Contra a sina de contar filhos na fossa
Põe-se fogo nos racistas

Haja Axé pra segurar tanta tristeza
Haja Axé pra não chorar tantos corpos sobre a mesa
Haja Axé pra perdoar o desumano
Haja Axé pra penhorar tantos séculos de dano

500 anos
Na mira pra morrer
Tamo vivendo
Pela graça de Olodumare

Quando cê viu
O que não queria ver
Violência com o corpo preto
Diz aí, “anti” cê fez o que?

Segue vivendo
Nesse petit-pois
Cheio de grana pra torrar
Nesse petit-comitê

Criando asco
Da pele afro
Deixando rastro
Negando fatos
Mantendo seu poder

Onde ninguém solta a mão de ninguém
Sempre fui alguém aqui
Que cês nunca quiseram entender

Dedos pra me apontar
Seus olhos sabem condenar
Lá no fundo cês só
Querem ver eu me fuder!

Vivo na selva
Conheço a fauna
E do fundo da minha alma
Eu só preciso que cê saiba que

Revés é volta
Nota por nota
Me pague agora
Ou quer vir de Tróia?
Tenta a sorte pra ver

Balela feito a baleia
No tanque amando a cadeia
Deu preguiça de quem fede a isenção

Militar versus militante
Nesse instante a paz tá distante
Bem diante dos meus olhos a cisão

Mas xadrez joga Xangô lá em cima
Duas limas e o machado um dia cobra
Ninguém sobra com a justiça
Poder podar mente assassina
Cabe ao artista sim lutar com sua obra
Feroz tecnologia

Haja Axé pra não perder noites de sono
Haja Axé pra não esquecer que essa terra, sim, tem dono
Haja Axé pra não correr rumo ao abismo
Haja Axé pra não morrer, pois viver é eufemismo