Ora iê iê ô! Oxum já derramou Lava minha'lma, Viradouro! De Itapuã, um canto ecoou Deságua das mãos teu amor! Maria, a negra, cor pintava a liberdade Pulsava o peito, aberto de alforria Xindó a desaguar essa saudade Lava, mamãe! Na ribeira dessa vida E papai já foi pra lida, joga a rede em alto-mar Varais de sonho, na riqueza dessa gente Doce água do afluente Leva meu Abaeté, até à Rainha do Mar Fio de contas, perfuma o ar com dendê! Nossa Senhora, lá vai Erê! Malês, cheganças Ilê, o toque do tambor Unindo Orun e Ayê! Os pés cansados, calçados de liberdade Na maré baixa rumaram a São Salvador Coração de lavadeira, ouve o canto da sereia, Odoyá Sob a sombra da aroeira, refúgio pra descansar Kaô, protetor, Kaô! Nas ladeiras dessa luta, os louvores de axé Brasileira, ganhadeira das batalhas No peito colares enfeitam a fé De fato o retrato: Um Brasil que se chama mulher!