Outra vez a primavera, carrapateou o rebanho E o compromisso me chama pra mais um dia de banho Venho por riba do mouro e embaixo da mormaceira Tocando o gado de cria na direção da mangueira Vou aproveitar a função par dosar a terneirada Leva um lote de ponta ao passo da encruzilhada Se o gado não ganhar peso, já basta pra um contragosto O patrão vai perder plata e eu, talvez, perca meu posto Dê-lhe porta, João Edar, grita um índio lá da ponta O resto fica por conta da peonada ovelheira A rês se lança pra baixo, jorrando água pro céu Em cada estouro lindaço, que por demais me fascina E sai nadando de pronto, que já vem outra de cima Ficaram couros goteando, sentando a polvadeira Um vento morno na escolta, levando o que não chovera O gado pampa de volta, com o cansaço na estampa E a noite estendendo a armada no lombo verde da pampa Meus olhos também se banham, mirando o passo do gado Comando a tropa na estrada, mas sou por outro mandado E o mouro firma o compasso, como se há tempos soubesse Que o homem trata por bueno somente que lhe obedece.