Na ponta de uma caneta Eu sou poeta, escravo dela, Sou beat, eu sou a rima, Sou o que a vida me revela. O tempo e o momento, Na folha que me observa Sou as emoções Que o dia trás e a noite leva. Sou o eterno em cada linha Que adivinha o incerto, Quando escrevo eu vejo o mundo Que programo e desperto. Mil versos como que uma vida Que este povo se queixa, Eu tento não ver isto Mas esta caneta não deixa. Faço desenhos de esperança Como uma criança que voa, Enquanto o mundo é inocente Não mente nem magoa. O pouco que tem é tudo Mas partilha com o colega, Que a inocência trás a justiça Que a ambição ainda não leva. Rabisco palavras Com imagens e o desejo, De fazer o quadro perfeito Com as imperfeições que vejo. Sou a tinta que corre Nesta folha livremente, Sou a verdade que a mentira Risca pra se por à frente. E vagueio por estas vidas Como mensageiro sem dono, Com relatos do que vejo Do que sou e do que sonho. Palavra que repetes Em cada estrofe fiel, Ao que eu sinto, tudo o que vives Tudo o que eu vivo num papel. Na ponta de uma caneta Eu sou poeta, escravo dela, Sou beat, eu sou a rima, Sou o que a vida me revela. O tempo e o momento, Na folha que me observa Sou as emoções Que o dia trás e a noite leva. (2x) Sou a vida que descreves Enquanto rimas sem platinas, Fama sem proveito Que o talento deixou nas kinas. Chance que não tiveste Ou deste ao manifesto, Uma demo em cassete Antes do Ace e do Presto. Legado musical Que este Portugal ignora, Invoco a linguagem dos poetas vivos Quando fado toca. No confim Mais obscuro do mundo, Sou reconhecido no silêncio E aplauso dado no fundo. O nome de uma causa Que me causa indignação, A sensatez num verso Num discurso, numa canção. A força da mudança Do bom senso em mente sã, Eu sou a voz não conformada Deste hoje e amanhã. O legado de Abril Em mil pontos de vista, A liberdade, a opressão Eleve num som de justiça. A fome que te embala No sono e acorda cedo, E essa visão positiva De quem ao menos não passa sede. Na ponta de uma caneta Eu sou poeta, escravo dela, Sou beat, eu sou a rima, Sou o que a vida me revela. O tempo e o momento, Na folha que me observa Sou as emoções Que o dia trás e a noite leva. (2x) Sou a história, sou o agora Sou um amanhã sem medo, Memória que me adorna E não deixa um só segredo. Sou transparente, recto, frio Agressivo de punho em riste, Fechado, subjectivo, e Internamente triste. Um amigo que não vejo O que desvalorizo no dia-a-dia, Sou o abraço que recebo E dou a quem não devia. Sou o crescimento feito, Perspicácia e persistência, a aprendizagem boa Na voz de uma má influencia. Sou as coisas certas Com consequências erradas, Opções más tomadas Que acabam recompensadas. Sou este mundo que no fundo Gira ao contrario, Que não forma milionários Escolhe um operário precário. Sou a expectativa, a melhoria A qualidade de vida, A ilusão, o sonho A oportunidade prometida. A garantia dada e merecida A quem respira, Eu sou tudo e não sou nada Sou só papel e tinta. Na ponta de uma caneta Eu sou poeta, escravo dela, Sou Cupido, eu sou a rima, Sou o que a vida me revela. O tempo e o momento, Na folha que me observa Sou as emoções Que o dia trás e a noite leva. (2x)