O marginalzinho amarrado ao poste era Tão incente que em vez de prestar queixa Contra seus agressores, ele preferiu fugir antes que ele mesmo acabasse preso O menino subiu a ladeira Passo a passo sem parar Caminhou pelas ruas do gueto Esquinas, bares, sinucas Procurando em alguém encontrar Um pedacinho ilusório de felicidade Talvez dois tavez três Quantos pudesse levar Pra comemorar o seu aniversário Entre becos, vielas, aquela Toma lá, da cá O menino deu as costas pro seu consciente E voltou a andar E descendo a ladeira no barro do campinho Ele viu dois muleques rodando um pião Lembrou logo da sua infância Quando bolinhas de gude jogava com o seu irmão Um casal apaixonado, abraços e beijos Uma linda despedida naquele portão Esses momentos felizes assim rotineiros Mais do nunca saltaram a sua visão E descendo a ledeira O menino chorou Ao perceber o buraco Que sua vida enfiou Lamentável, lamentável, lamentável Lamentável E descendo a ladeira com a parada na mão Uma, duas, três vielas, eis ali camburão Eu batendo em retirada um, dois, três, trupicão Uma senhora, uma barraca e a esperança la no chão Todo mundo me olhando como se eu fosse um ladrão Adrenalina, sangue quente, eterna rebelião O passado e o presente coloquei em questão Me levantei saí correndo sem pagar vacilação O corpo todo suado O meu pisante estourado Meu ombro todo ralado Preto, sujo, favelado Pra sociedade do asfalto Um inimigo declarado Olhei pra trás não vi os vermes Ramelei fiquei de leve Dei até uma parada para respirar Quando senti tomei do nada Dois tapão e uma paulada De um povo injustiçado Querendo me injustiçar Ração diaria de vingança contra a raça ladrão Que infernizou a sua vida em alguma situação No caminho que eles trilham que é o oposto do perdão O açoite como ligeiro é no lombo desse negão Um cadeado de bicicleta E um poste amarelo Meu pescoço amarrado Sem roupa e nem chinelo Foi o presente de aniversário Me oferecido pela nação Na praça pública fui amarrado Provando da falsa abolição Lamentável