A estância se acordou Em dia de campereada Chiando pelas cambonas Pra se iniciar a mateada De repente, um peão barbudo Atando a segunda espora Abriu a boca sisuda Pondo os olhos campo a fora E falou pros companheiros De mesmo rumo e ofício Numa tal de mais-valia Falando em tom de comício Contando um pouco de história Revoluções, coisa e tal Foi falando de trabalho Propriedade e capital Terêncio ficou sabendo Com os óio arregalado O que nunca, então, pensara Todo o peão é explorado? E aquele peão barbudo Com a melena comprida Foi falando, enquanto via Toda a peonada reunida A peonada leva a tropa Pra morrer no matadouro Esfola a bunda nos basto O sol véio queima o couro Mas o patrão barrigudo É que embolsa todo o ouro Se madruga todo dia Pra laçá e curá bicheira Se afunda os garrão no barro Com essas vaca da mangueira E o que nos sobra de tudo? Só hemorroida e frieira E ainda fazem rodeio em nome da tradição Os boi de língua de fora Pra alegria do patrão O que era duro ofício Se transforma em diversão E tem mais: a propriedade Deve ser de quem trabalha Quem sustenta a casa-grande São nossos rancho de palha Se a peonada joga truco O patrão é quem baralha Nisto, chega o capataz Sempre de cara amarrada O Carlos fica solito Falando pra madrugada E tem gente trabalhando Sem ter carteira assinada! Cada um pegou seu laço Pra mais um dia de lida O sol campeiro encilhou A pampa verde estendida E aquele peão, no outro dia Pediu as contas, se foi Tangendo um sonho distante Ouvindo um berro de boi Alguns dizem que o patrão É que o botou porta a fora Porque não tinha no lombo As marcas da velha espora E seguiu a velha estância No mesmo tranco, afinal Terêncio tirando leite Nestor montando bagual O patrão com a guaiaca Forrada dos capital