Pense na luta desigual: Caçador e caça Que há nos campos do coco perdido Anunciando os grilos da mata Emboladas, carimbós, terreiros em brasa Em si nuam-se as prendas mais lindas De tangas tão finas que matam Que matam, que matam E na arapuca do roçal, quanta pirraça! Há um menino de pés invertidos Com um rolo de fumo e uma carta Poucas linhas e o sinal de uma ameaça Vem chegando a vingança dos filhos Que os velhos lunários relatam Relatam, relatam, relatam O curupira vai voltar Embalando a cantigas de roda E no baile encantado que ele vai dar Vai ter luar Ciranda, escudo contra mal olhar Angu, fubá Fumaça aplicada feito um boitatá Vai ter luar Ciranda, escudo contra mal olhar Angu, fubá Fazendo essa gente esquecer de chorar E em teus sinais de cruz e fé Gritam caciques, candomblés Que o curupira vai voltar E virá melindroso e sorrateiro Como a culpa secreta de um ladrão Nos medonhos sinais da tentação Que acossavam as virgens, de primeiro Sairá da caatinga ensandecido Feito choro satânico d'um rebento Cujos dentes, rangendo de lamento Amolecem as ceras do ouvido Curupira faz pacto com urubu Pra lamber o amarelo das perebas Das mocinhas retintas e magrelas Como aquelas do óleo pajeú Ele é a fome das grávidas de antojo Que descomem desejos sem alardes Como o beijo hediondo dos covardes Que anuncia a véspera do nojo Não tem besta nem cavalo do cão Que de longe não sinta sua presença Ele vem pra desmantelar a crença Nas penúrias perpétuas do sertão E é por isso que, antes de voltar Curupira fará um juramento E do alto de seu encantamento Poderá finalmente anunciar Que enquanto esse povo não lutar Com a foice, o sangue e o coração Não fará ele o mar virar sertão Nem tampouco o sertão vai virar mar O curupira vai voltar Embalando a cantigas de roda E no baile encantado que ele vai dar Vai ter luar Ciranda, escudo contra mal olhar Angu, fubá Fumaça aplicada feito um boitatá Vai ter luar Ciranda, escudo contra mal olhar Angu, fubá Fazendo essa gente esquecer de chorar E em teus sinais de cruz e fé Gritam caciques, candomblés Que o curupira vai voltar