Reynaldo Bessa

Por onde a saudade sabe entrar...

Reynaldo Bessa


Peguei meu peito 
Pus alarme, pus segredo. 
Trava, trinco, tranca e prego. 
Qualquer coisa de pregar 
Botei um cachorro, um gato e um vigia. 
Reparando noite e dia, dia e noite sem parar. 
Apertei os parafusos do passado 
Meu presente eu pedi pra se ausentar 
Minha incerteza que é muito barulhenta 
Dei um tapa na venta e mandei pra Bagdá 
Por garantia eu colei todos os poros e 
Lhe asseguro que não foi com cascolar 
Mas quando entro na sala da minha alma
Sabe quem está deitada no sofá? 
Sim, eu sei, a saudade não gosta de avisar. 
Não, não sei, por onde a saudade sabe entrar. 
Fechei minha alma e 
Joguei a chave dentro 
Fui pra ponta, vim pro centro. 
Pro meu rastro embaraçar 
Fechei o armário 
Na gaveta pus rosário 
No pescoço um escapulário e 
No bolso um patuá 
Baixei a cortina dos meus olhos 
Pra vizinhança falei que fui viajar 
Meu coração que é muito relutante 
Lhe dei um calmante e mandei se aquietar 
Por vários dias eu passei noites em claro 
Buscando um jeito dessa moça não entrar 
Mas quando chego no quarto da minha alma 
Sabe quem encontro de peignoir? 
Sim, eu sei, a saudade não gosta de avisar. 
Não, não sei, por onde a saudade sabe entrar.