Remisson Aniceto

O Homem Sozinho

Remisson Aniceto


O homem sozinho não pode morrer
Não, não pode!
Ele não tem o direito de se dar tal luxo
Se ele morrer, morrerão os passarinhos
Se ele morrer, quem cessará o despertador?
Quem, ao cair a madrugada, desligará a TV?
Quem fará o café?
Quem escovará os seus dentes
Quem tirará o pó dos móveis
Quem lavará a louça e recolherá o lixo?
Quem apagará as luzes e fechará as portas?
Quem fará o seu trabalho do dia seguinte
Quem fará tudo exatamente como ele
Fazia, se ninguém é substituível?
Quem escreverá o seu poema de cada dia?
Quem fará o quê com os seus livros?

O homem, sozinho, não pode morrer
Ele tem que esperar até que alguém apareça
E se por acaso alguém chegasse ele não poderia morrer
Obrigando que um visitante desavisado assistisse à sua morte

O homem sozinho, desaire, não pode deixar
Que sua companhia o veja morrer
Ademais, quem faria sala para a sua visita?
O morto faria?
E serviria a água, o café, o almoço, o vinho?
O morto discutiria sobre as amenidades da vida?
O homem sozinho não pode esperar por alguém
Que certamente não chegará

O homem, sozinho, não pode esperar
O homem, sozinho não pode nascer
O homem, sozinho não pode amar
O homem, sozinho não pode viver
O homem sozinho não pode morrer
O homem, sozinho não pode nada
O homem sozinho não é nada
O homem, sozinho não é homem
O homem, sozinho, não

Sozinho
O o
H h
0
M m
E e
M m

Não