Remisson Aniceto

Quem Desdenha Quer Comprar (Mulher de Dezesseis)

Remisson Aniceto


Mas um ditado vou lembrar
Muito desprezo é sinal de desejo
É como eu vejo
Quem desdenha quer comprar

Mas um ditado vou lembrar
Muito desprezo é sinal de desejo
É como eu vejo
Quem desdenha quer comprar

Há trinta e três anos ela tinha dezesseis
E eu chegava aos vinte e seis
Todos achavam um absurdo
E eu nem aí, me fazendo de surdo

As mulheres cochichavam nas esquinas
Vejam só o velhote com a menina
O papa-anjo pensa que está abafando
Que a jovem o está amando
Quando se assustar vai levar a pior
Será preso por abuso de menor

Mas um ditado vou lembrar
Muito desprezo é sinal de desejo
É como eu vejo
Quem desdenha quer comprar

O seu rosto parecia o de uma menina
Mas seu corpo era um lindo corpo de mulher
E quando a gente parava na esquina
Nos beijando como quem nada quer
Só pra provocar

Os homens queriam estar no meu lugar
Todos me davam pena
Sem mulher nova e nem velha pra amar
Todos há muito tempo fora de cena
Só o que sabiam era fofocar
Falar da vida alheia
Que coisa feia!

A inveja é o que lhes dava prazer
Depois em casa choravam pra valer
Se lamentando, coitados
E eu nem queria saber
Enquanto fofocavam pelos cantos
Eu era amado e estava amando
Enquanto à noite namoravam o pranto
Eu recebia beijos e vivia cantando

Mas um ditado vou lembrar
Muito desprezo é sinal de desejo
É como eu vejo
Quem desdenha quer comprar

Achavam o nosso amor um desaforo
Mas voltavam pra casa sozinhos
Disfarçando o choro
E a gente colhia flores pelo caminho
Todos sentiam inveja de mim
Querendo estar no meu lugar
Sem um amor do seu lado
Viviam sós e desprezados
Sem ter alguém pra amar

Mas um ditado vou lembrar
Muito desprezo é sinal de desejo
É como eu vejo
Quem desdenha quer comprar