Olha, meu bem Eu tenho os meus dedos nos pulsos Dos jovens de espírito turvo Os grandes amantes do mundo Que transam nos becos escuros E bebem e conspiram o futuro Os jovens, meu bem De olhares iconoclastas Que descem seus pés das calçadas Ocupam as ruas e as praças Derrubam heróis e estátuas E erguem no chão barricadas E o tempo é vândalo Não segue regras, não segue lei Derruba reis Não segue regras, não segue lei Derruba reis Ora, como você Há jovens que nasceram velhos Que morrem de medo do inferno Que vivem tomando remédios Julgando o errado e o certo Do alto dos balcões dos prédios Ah, o tempo, meu bem O tempo destrói as fronteiras Derruba impérios, igrejas Arranca coroa e cabeças Refuta ideias e crenças Inspira novos poemas E o tempo é vândalo Não segue regras, não segue lei Derruba reis Não segue regras, não segue lei Derruba reis Ah, olha meu bem Você acha que o presente Por um motivo somente O de existir realmente O de ser ele o presente Existirá para sempre Mas olha, meu bem O tanto que os homens viveram Vê nosso mundo e nós mesmos Somos assim tão pequenos Um pequeno ponto no tempo Se achando grandes eventos E o tempo é vândalo Não segue regras, não segue lei Derruba reis Não segue regras, não segue lei Derruba reis Ah, olha, meu bem O que você chama vida Não é bem a vida-viva Não é bem mais que rotina Vê não se move nem pisca Ah! Já não pulsa ou se anima E olha, meu bem Olha essas suas ideias Que todos julgam corretas Que são tão sóbrias e retas Que até parecem modernas Já estão podres de velhas E o tempo é vândalo Não segue regras, não segue lei Derruba reis Não segue regras, não segue lei Derruba reis Olha, meu bem Os homens que vestem a morte Cachorros treinados para o choque Que matam em nome da ordem Que usam e abusam da sorte Se achando grandes e fortes Mas vê, ó meu bem Toda dor tem sua dose Tudo que é velho foi jovem E eu vejo o novo no norte Nas linhas e curvas da sorte Dos jovens de mãos molotov E o tempo é vândalo Não segue regras, não segue lei Derruba leis Não segue regras, não segue lei Derruba reis Olha, meu bem Tudo o que foi construído Os muros dos nossos ouvidos As lojas que vendem sorrisos Os carros que andam nos trilhos O branco na pele dos ricos Mesmo o que soa infinito A pátria, o patrão, o partido A língua que ordena o juízo Homem, mulher ou desvio Ordem, governo ou vício As rugas dos recém-nascidos A glória do pão repartido Depois de encontrado no lixo Mesmo isso tudo que eu digo Não terá nenhum sentido Logo será esquecido Não passará de vestígios De um tempo em que homens feridos Esperavam tempos mais vivos