Acorda cedo mais uma vez Lembra do azul da farda, tá com medo mais uma vez E enquanto reza pra um Deus que parece cego Não da pra ter sossego, sem emprego e mais uma vez Dobra os joelhos enquanto reza pelos filhos Levanta e acende o fogo pra fazer papa de milho Acorda a filha mais velha, controla a panela A mãe tá atrasada, o beijo vai pela janela Compra fruta a 200 pra vender a 300 O lucro de 100 quase nem dá pro sustento Ninguém quer saber da minha luta e sofrimento Oh Deus, os meus clientes querem sempre batimento Se eu baixar o preço, fico sem lucro Os que tão no confronto do AC do carro, reclamam muito Ele insiste enquanto eu digo que não posso Aparece a polícia, pontapés no meu negócio Senhor fiscal, será que faz parte do teu trabalho Tratar-nos como cartas fora do baralho todo dia? Eu sei que tu não lidas bem com críticas Eu juro que não entendo o excesso de força física Como não vou vender? Eu sempre vendi Sempre houve falta de condições aqui, desde que eu nasci Vais bater numa mulher com uma criança as costas Agora com as redes, toda a gente posta Depois o mundo finge que se importa com a minha dor Até esquecerem-se e aparecer outro agressor A mesma farda que me devia proteger É mancada com o meu sangue, polícia podes me bater Eu dei à luz a homens como tu, te carreguei no ventre todo nu Sabes o que temos em comum? Ambos violamos as regras E a ironia é que o meu marido é teu colega São teimosas, não escutam, são muito teimosas Aqui não se vende, não tão a ver lixo aqui? Mas nós somos mesmo teimosa porque não temos onde comer A vida tá mesmo difícil pra todos Por exemplo, esse mês o salário tá demorar Eu mesmo com a ferida que caí com ele no fiscal Estou vir mesmo vender Nós é seguir atrás dele pra pagar Você segue atrás dele pra pagar pelo menos uns 500kz Você te chama de ladra, ele te dão teu negócio