Eu vi você nascer ali na quebrada Sobreviver, crescer em meio á batalha Travada todos os dias ali na periferia Mudar de vida, um dia, era o que você queria Mas de repente sua mente ficou alterada Se envolvendo na pilha da rapaziada Beck na mente e mais nada sempre cabulando aula Assim você começava ignorar a Palavra Via uma par de maluco na quebra se dando bem Carreta, grana, mulher e tudo o que você não tem Você sentia e queria um dia ser assim também Se destacar na quebrada, ser notado, ser alguém Que que tem? Um adianto aqui, outro ali pra começar Moral com os vida loka, Você já conhece uma par E se pá, é só questão de tempo até não conseguir sair do movimento Tá ligado, essa vida é suicídio lento Mas o mal te tragou, então, só lamento Muitos morreram e nunca vou me esquecer Do dia em que vi você morrer De joelhos a chorar, nunca vou me esquecer Nesse dia eu vi você morrer Dois anos mais tarde, agora já maior de idade Se lembra do tempo que teve que puxar no cade Se lembra da mãe na visita no tempo da grade Falando de Cristo, pedindo que você aceitasse Lembra também das história que foi contada De como os cabrito jogaram seu camarada Lembra da lei que aprendeu nas ruas da quebrada Olho por olho, dente por dente, arma por arma Sangue no olho, sem chance de deixar queito Opala preto, vários pipocos no boteco No dia seguinte três corpos ganham funeral Frevo na quebra, saíram até no jornal Daí pra frente você se afundou ligeiro Drogas, assalto, tudo mais que desse dinheiro E numa dessas você vacilou sem perceber Nem deu tempo pra correr E agora o que fazer? Sangue escorrendo, sua vida num flash back Lembrou da sua dona falar que esperava um muleque Lembrou da sua mãe te dizendo, com a Bíblia na mão, Que Cristo te amava e só Ele dava Salvação Abriu seus olhos na cama do hospital Pensou: Cinco pipocos, porque que não foi fatal? Mas aí, o que tu nem imaginava era que a sua morte se aproximava De joelhos a chorar, nunca vou me esquecer Nesse dia eu vi você morrer De volta pra rua, no seu ouvido chegou Nome e endereço do guardinha que te baleou Demorô, vamo atrás Os irmãozinho venena Armamento não falta, aí, vai ficar pequeno Trombou com o tio moscando de quebrada Sem dó dando uma par de coronhada A Bíblia que o tio carregava caiu Você viu, queria puxar o gatilho e não conseguiu Sentiu um arrepio, viu o corpo tremendo Não tava entendendo o que tava acontecendo Naquele instante alguma coisa tinha mudado Naquele instante a morte estava ali do seu lado Frustrado do que tinha rolado Saiu, passou em frente a igreja, sua coroa lá viu Se sentindo angustiado, levando um fardo pesado Lembrou de quantos convites já tinha recusado Lembrou também que seu neguin tava pra nascer E de quantos nessa vida loka tu já viu morrer Viu tudo lento, naquele momento Parou e ouviu o pastor falar de arrependimento Arrebatamento tomou conta do seu ser Caiu de joelho sem entender o porquê Festa no Céu, nesse dia eu via você morrer (Glória a Deus) E em Cristo renascer. De joelhos a chorar, nunca vou me esquecer Nesse dia eu vi você morrer