Quem me vê assim cantando Não sabe o que eu já passei Quantos tombos eu caí Pra chegar onde cheguei Filho de família pobre Estudo quase eu não tive Se o presente era difícil O futuro imprevisível A família era grande Maior a necessidade Quando me lembro da infância Que ficou lá na distância Desse tempo de criança Eu não tenho nem saudade A vida ficou pior Com a geada que caiu Queimou todo o cafezal O arrozal não produziu Plantamos feijão rosinha Parecia um sucesso Mas na hora da colheita Veio chuva em excesso A fome veio também Levou nossa esperança Lembro que mamãe chorou Quando o papai chegou Olhou pra nós e falou Hoje é o dia da mudança Fomos todos pra cidade Melhores dias buscar Eu levava na bagagem O meu sonho de cantar Apesar de ser franzino O caçula dos irmãos Também ia pra batalha Para não faltar o pão Com calor, chuva e o frio De chinelo, pé no chão Me lembro que todo dia Num caminhão boia fria Eu e o meu pai seguia Pra colheita de algodão Ainda guardo o estilingue Que eu caçava passarinhos Meu Deus como me arrependo De matar os coitadinhos Hoje eu estou mudado Sou um homem consciente Pela fauna e a flora Luto com unhas e dentes Por chegar onde cheguei Muita gente me admira Sei que não sou nem um gênio Não esqueço de onde venho Uma coisa que eu tenho É orgulho em ser caipira