Os mandacarus não servem De abrigo pra os passarinhos Não tem folhas nos seus galhos Pra o abrigo dos seus ninhos Parecem com espantalhos Perdidos pelos caminhos. Crescem e vivem sozinhos Cumprindo uma triste sina Não dão sombra a quem passa Nem protegem da neblina São como esqueletos vivos Na paisagem nordestina. Vestem a mesma batina No inverno e no verão Sempre de braços abertas Nos dando a vivida impressão De um crucifixo de espinhos No calvário do sertão. Tão solitários estão Apesar de serem tantos Não sentem os pés dos pássaros Apenas ouvem seus cantos Suas reservas de águas São acúmulos dos seus prantos. Desprovidos de encantos Distantes da perfeição Carentes de companhia São vitimas da solidão Braços erguidos pra o mundo Ninguém pega sua mão. Em qualquer tipo de chão Ele cumpre o seu destino Não se curva a tempestade Não se rende ao sol alpino Heroicamente resiste Como qualquer nordestino. Seja grande o pequeninos Sofrem o mesmo desgosto Seus espinhos finas lanças Perfurando corpo e rosto Talvez por esse motivo Seu coração vive exposto. Nunca vai servir de encosto Pra o descanso das gazelas De palcos para o conserto Dos sabiás amarelas Nem pros jumentos cansados Coçarem suas costelas. Perto de aves mais belas Ele só se martiriza Não baila ao sabor do vento Nem treme ao sopro da brisa Nem sente cocegas das unhas Da lagartixa indecisa. Seu corpo ninguém alisa Sua roupa ninguém veste Impacto contemplativo Símbolo maior do nordeste Indignado suporta Toda solidão agreste.