Imagine que você vive em harmonia É livre tem pai e mãe, tem filho e filha Num clique, numa armadilha, alguém te oprime Regime que te humilha e te suprime Reprime te aprisionando com gargantilhas Presilhas, correntes não são bijuterias Desiste, no porão negreiro o sol não brilha Evite olhar pra trás no mar não ficam trilhas É triste ser separado da sua família Progride a viajem em direção a ilha Decide, calar-se ou apanhar por milhas Não grite, aqui ninguém fala a sua lingua Seu tempo já não é dos astros e do universo E sim a pressa do opressor que presa o progresso Despreza o seu credo menospreza o seu costume O clero impõe a crença e quer que você se acostume A ser um bom escravo, e ao fim da vida ir pro paraíso A gente já vivia nele antes disso O que nos resta agora: trabalhar sem dia, sem hora Sem escala, cem horas por semana, sem grana Sem nada, sem pausa, com náusea, sem causa, Com trauma são pretos ditos sem alma Em jaulas chamas senzalas Sem ganho, sem banho, o cheiro de morte exala "éramos guerreiros príncipes e camponeses, Agora nos denominam vagabundos, viajamos Nos navios negreiros por meses, nosso mundo Novo, agora é o novo mundo" Refrão 2x Eu vou viver, eu vou vencer, vou chegar lá: e nunca vou deixar de lutar Eram pretos buscando liberdade veio a alforria Um tipo de maquiagem pra esconder a hipocrisia Uma utopia encomendada pra gerar frustração Sem grana pra semente e nem terra para a plantação Sem volta pra terra natal, sem embarcação Agora são pretos buscando libertação Demonizaram as crenças, padronizaram a cultura Inventaram doenças, democratizaram a escravatura Restaram escombros dos antigos quilombos Afastaram os troncos, cicatrizaram os lombos Tiraram o peso dos ombros, venceram a chacota O chicote não chacoalha mais, nem estala nas costas Ginga pastinha e bimba ao toque do berimbau Ou candeia e donga ao som do carnaval Guerreiros sempre seremos Sofremos e nós sabemos Não queremos nada do que não merecemos Fazemos nossa parte, nosso trabalho, nossa arte Mas ninguém reparte o pão, não querem ver nosso estandarte Não é tarde, ainda é tempo tá ligado Olhe em nossa história e entenda qual que é nosso legado Temos cultura e ninguém pode nos tirar isso Agora a gente prova, honra e mostra nosso serviço De preto, muito respeito Somos herdeiros e queremos o que é nosso por direito. Refrão 2x Eu vou viver, eu vou vencer, vou chegar lá: e nunca vou deixar de lutar Fomos escravos de ganho: mas, pro ganho de quem? Trabalhamos pros senhores sem ganhar um vintém Fomos agricultores, construtores, estrategistas Somos produtores, professores, cientistas Só nos quiseram como babás pras suas crianças Hoje somos donos das casas da sua vizinhança Dignamente sem falsidade ideológica Preservando bem a identidade biológica. Não somos melhores na música, não somos melhores no esporte É onde tivemos melhores chances travestidas de sorte Preta de branco é mãe de santo ou empregada doméstica Não lhe passou na cabeça que poderia ser médica Cê não admite que com bons olhos eu possa ser visto Que eu posso subir na vida sem elevador de serviço Sendo um advogado ou quem sabe um bom engenheiro Isso é o que nós chamamos de serviço de preto Refrão 2x Eu vou viver, eu vou vencer, vou chegar lá: e nunca mais vão me acorrentar Eu vou viver, eu vou vencer, vou chegar lá