Fiz a casa de taipa no alto da serra Cobri com coqueiro quem vê se admira Eu fiz um fogão e um forno de lenha Todinho de barro no gosto caipira Fiz uma jangada e um samburá Toda de taboca pra pescar traíra Eu fiz um monjolo também um engenho Uma rede de esteira amarrada de embira. A essência divina da felicidade É minha palhoça e meu mausoléu Enfrento o sol com a camada de ozônio Nas palhas trançadas do meu chapéu E à noite eu sinto a presença de Cristo Esculpindo estrelas no negro painel No balanço da rede adormeço olhando A lua mamando no peito do céu. Aqui onde eu moro a mãe natureza Pinta quadros vivos para os olhos meus As figuras nascem da polpa divina E recebe a luz da placenta de Deus Na tela infinita do grande universo Também sou estampa no nascer dos seus O sábio pintor com pincel invisível Expõe suas obras em seu próprio museu. Sou tapiocano caboclo matuto Espinha dorsal da nossa nação Sou escudo do sol e escravo da sorte E também o elo no centeio do pão Sou servo que vivo regando as flores Sulcando esperança do seio do chão Caipira eu nasci, caipira vou morrer E jamais vou viver longe do meu sertão.