Pus-me à noite a ouvir o mar 
sentado na pedra sentado na areia 
e senti uma barcarola criar devagar 
esta melodia 
tinha a crista e vaga desta vaga história 
d´arte marinheira 
luzia na prata mais rica, 
mais rica mais rica que havia 
e aquele pensamento d´ir e voltar sempre 
que há na maresia 
fez subir da água, dessa água toda, cem mil caravelas 
era mais que o mar mais que a vida toda 
quem ali fervia 
e foi muito mais que um homem com guitarra 
quem soltou as velas 
tive ali a consciência 
tinha ali a história toda 
tinha ali um povo antigo 
a cantar comigo uma canção de roda 

Mergulhei da praia nessa história grande 
de alma derramada 
falei com mareantes e conquistadores 
gente aventureira 
crepitei nas ondas marés de ida e volta 
partida e chegada 
cortei fundo a crista do gume das vagas 
duma vida inteira 
mas daquele mar fundo fundo mar que lá fica sempre 
trago só lembranças e um saco de tempo 
s´é que o tempo presta 
quem disser que o viu que o compreendeu 
ou se esquece ou mente 
pois no fundo hoje a raiva que ficou 
é tudo o que nos resta 

Tive ali a consciência 
tive ali a história toda 
tive ali um povo antigo 
a cantar comigo uma canção de roda