Quarta-feira: É dia de futebol, João Dia do primeiro gol E a bola nem reclama Do beijo do seu pequeno pé! É dia de soco no ar, João... De fazer de conta de Robinho, Ronaldo, Rivaldo Pelé, Tostão; De estufar rede e peito, Dedo em riste, Joelho ralado... Dor? Não! Porque nesse dia, João, Só você é, Os outros... Ah, os outros não são! Hoje é dia de falar, João, Que tanta gabolação! No carro, Na esquina, Na praça Na luz amarela de atenção... E no vermelho: Pára mãe, irmã - Irmão, não! Lá dentro do pequeno João Parco espaço, tanta empolgação! Pouca respiração, tamanha falação... Que nem viu o outro menino Com a injustiça na mão. É dia de correr, João! (Porque, se você é Os outros também serão?) De prender a respiração Livrar-se da segurança Para estar em segurança Que tanta contradição! Corre contra o tempo, João! A injustiça machuca Arranca o choro de Rosa E da menina que apressa Temendo por seu irmão Mas é dia de deixar, João Deixe a mãe, deixa, menino Que os braços de Rosa, erguidos Não deram socos no ar, Nem mandaram beijos e palmas Para o pequeno João Quando seus mínimos dedos Comemorando a injustiça Tornaram-se grãos pelo chão. É dia de semear, João Ou será menino-pião? De plantar por toda a cidade Pro dia da colheita maldita. Rode, João, deixe estar... A vida vai ensinar. O orgulho-gol que fuçava a mente Do menino-João-falação Agora, espalhado nas ruas É asfalto, também, é vão. É dia do caçador, João... E nesse dia, você é caça. Nesse dia, não existe razão. Nesse dia, menino João... Você já não é. Os outros... São.